Morte de modelo reacende polémica sobre a anorexia

A morte da modelo brasileira Ana Carolina Reston, no passado dia 14, trouxe novamente para o centro das atenções a problemática da anorexia. A modelo paulista de 21 anos, 1.72 metros e 40 quilogramas de peso, estava internada desde Outubro com uma insuficiência renal, a sua situação clínica agravou-se e a jovem não resistiu a uma infecção generalizada, vindo a falecer.
Ana Carolina foi descoberta aos 13 anos por um elemento da agência Ford. Na sua curta carreira, desfilou em vários países, entre os quais Japão, China, Turquia e México. Actualmente, a jovem trabalhava para a agência de moda L'Equipe.

Mãe da jovem fez apelo

A famíla da jovem tem esperança que a morte da Ana não tenha sido em vão, que sirva de exemplo para muitas outras jovens. A mãe de Carol, como era conhecida, relembra que tentou ajudar a filha, mas esta pedia-lhe: “Mãe, não briga comigo. Eu não quero comer, a comida não desce". Ainda abalada com a morte da filha, Míriam Reston apelou aos pais para que estejam atentos aos seus filhos e, caso notem algo, "levem seus filhos a um psicólogo antes que aconteça o pior".

Agências brasileiras vão exigir exames médicos

Na sequência deste acontecimento, os representantes de seis agências de moda (L'Equipe, Ford Model, One, Merlin, Elite e Mega Model) reuniram-se ontem, em São Paulo, e anunciaram que vai ser obrigatória a apresentação de exames médicos pelas modelos a cada seis meses. Serão também exigidos exames sanguíneos. Sabendo o papel importante que as agencias têm, estes pretendem incentivar as jovens a manterem um estilo de vida saudável e mostrar-lhes que não será através de "dietas malucas" que conseguirão ter sucesso no mundo da moda.

No mesmo dia em que foram conhecidas as novas imposições das agências, foi também conhecida a morte de mais uma jovem de 21 anos, estudante de moda, que efectuava um tratamento para recuperar da anorexia. Carla Sobrado Cassalle faleceu na passada quinta-feira (dia 16) em consequência de complicações provocadas por uma anorexia nervosa e bulimia.

Semana da Moda de Madrid iniciou luta contra a doença

O primeiro passo para incentivar modelos e jovens a manterem uma vida saudável, sem dietas exageradas, foi dado em Setembro, na Semana da Moda de Madrid. O governo regional de Madrid, em conjunto com a Pasarela Cibeles, organizaram este evento e impuseram algumas regras inovadoras. Foi proibida a participaçao de modelos com um Índice de Massa Corporal (IMC) inferior a 18 e de modelos com menos de 18 anos. Com esta nova imposiçao, cerca de 30% dos manequins que desfilaram no ano anterior foram impedidos de participar na edição deste ano.

De acordo com a organização, estas medidas visam a sensibilizaçao do público mais jovem para os riscos da magreza excessiva e de doenças como a anorexia e a bulimia. O governo regional madrileno não atribuiu a anorexia aos modelos nem aos estilistas, contudo, lembrou que "a moda é um espelho, e muitas adolescentes imitam o que vêem na passerelle".

Reacções em Portugal

Os estilistas e modelos portugueses consideraram exageradas as medidas adoptadas em Espanha. A estilista Fátima Lopes mostrou-se indignada com a associação que está a ser feita e que pretende "transformar a moda num bode espiatório". Segundo ela, esta associação vai fazer com que modelos naturalmente magras sejam discriminadas. A mesma opinião não é partilhada pela representante da agência Elite. Ana Borges, concorda com a aplicação da medida "por chamar a atenção para um problema que é grave". No entanto, não considera haver uma ligação directa entre moda e anorexia.

Tó Romano defende que a aplicação destas restrições foi, sobretudo, uma estratégia de marketing. Mas mesmo assim, o director da Central Models considera uma mais-valia a abordagem deste tema, uma vez que "o mundo da moda às vezes ultrapassa os limites".